25/09/2012

Quilombaque: a arte de resistir comemora sete anos

Por Tamires Santana


Enquanto as pessoas correm a passos largos, até mesmo aos domingos, rumo aos shoppings centers, na loucura por lazer, conforto e comida fast food, a Comunidade Cultural Quilombaque corre na direção contrária com o lema “quebrando correntes e plantando sementes, a nossa vitória não será por acidente!”. Na Travessa Cambaratiba, número 05, Beco da Cultura, bem em frente à estação de trem Perus, (linha 7-Rubi da CPTM) é possível ter o privilégio de caminhar sobre uma tranquila rua de terra, contemplar grafites que destacam  um extenso muro e chegar a uma pequena porta que dá de encontro ao magnífico mundo da intervenção cultural. É como caminhar sobre uma colorida floresta e encontrar um gigante sempre de braços abertos para um abraço fraternal.

Neste último dia 23, o Quilombaque comemorou sua festa de aniversário em celebração ao seu sétimo ano de integração entre movimentos sociais e comunidade, elegendo, para isto, a Praça Inácio Dias e uma agenda muito especial, com atrações diversificadas. O público apreciou música de qualidade com a participação das bandas “O Mandruvá”, “Os Incorretos”, “Guarus”, “Cartel Central” e a cantora Kiara Luna. Também houve apresentação de arte circense, intervenções de literatura e o polêmico graffiti “Maldade Pública”, fazendo alusão a porcos, políticos e os incêndios na favela do Moinho (SP).

José Soró, 48, há cinco anos atuando como coordenador de planejamento do Quilombaque, conta que nos primeiros dois anos de existência, a entidade se manteve em uma garagem na Rua José Correa Picanso, mais conhecida como a Rua do Sapo. Como seus idealizadores Dedê, Clevinho e Fofão, todos irmãos, tinham como meta montar uma oficina de marchetaria, necessitavam de um local maior e de fácil acesso.  Desta forma, alugaram um galpão que, na época, servia de oficina de caminhões.

Apesar de a palavra intervenção ter incorporado há tempos o nome da Comunidade, o local é alugado e, por isto, pode-se considerar que o maior desafio em manter o trabalho ativo trata-se da sustentação financeira. “Tem que ser criativo para poder ter estabilidade de geração de renda. Temos superado através dos ganhos do bar, da realização de eventos, contribuições voluntárias e capitação de recursos por meio de projetos de atividades regulares”, afirma Soró. Outro fator que implica sobre as dificuldades que o movimento enfrenta se debruça sobre um projeto criado em 2011 pela prefeitura. O plano visa devastar vários núcleos de moradia que se encontram na beira do rio, incluindo o Quilombaque, para a construção do “Parque Linear”. Ante este fator, a “ocupação” tomou conta da funcionalidade do movimento.

Difícil entender como existem projetos que promovem a produção e a difusão cultural, que proporcionam aos moradores, principalmente aos jovens, a experimentação, fruição e expressão das diversas e diferentes formas de manifestação artístico-culturais, que incentivam o desenvolvimento social, educacional, ambiental e econômico local sustentável. Além deste fator, hoje, uma das maiores resistências é o preconceito que os jovens sofrem. Os sintomas arraigados são: desemprego, vulnerabilidade em casos de violência, seja como praticante ou vítima e falta de oportunidades.

Ainda assim, sobre o atual momento, em meio a todas as dificuldades, é possível colher resultados positivos. As oficinas de percussão, danças, circo, marchetaria, libras, redação, teatro, Hip Hop, grafite, educação ambiental e Arte da Paisagem, disciplina do Laboratório de Estudo da USP, ministrada pelo professor Euler, não deixam dúvidas sobre o sucesso da circulação cultural. Igualmente por meio da promoção das atividades de cinema, teatro, música, debates, exposições de fotografia e artes, esportivas, festa junina, saraus e feiras de artesanatos.

A Comunidade Cultural Quilombaque se tornou um dos principais pontos de cultura e oposição ao falso pensamento de que as coisas não dão certo na periferia: segue firme como articulador junto a outras lideranças de diversos locais, fomentando a produção cultural e proporcionando uma movimentação e diversas experimentações, angariando, desta forma, o funcionamento de uma verdadeira rede de cultura.
Pense em algo que faça sinônimo com esta história. Fale: RESISTÊNCIA!

Imagem: Tamires Santana

Tamires Santana é jornalista e designer gráfico, além de militante em prol dos movimentos culturais na cidade de Francisco Morato. Ela escreve para o AODC Noticias quinzenalmente, às terças-feiras.

2 comentários:

  1. Seja bem vinda Tamy.... AODC só ganha com vc.

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  2. ÊÊÊ Mais uma jornalista poeta! Texto vivo emocionado e emocionante. Muito obrigado Tamires! Agradecimento especial ao AODC. Firmes na luta aí!

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